Baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015, a história de Eunice Paiva, retratada no mais recente filme de Walter Salles, "Ainda estou aqui", que rendeu à atriz Fernanda Torres um Globo de Ouro nesse domingo (05/01), está intimamente ligada à redemocratização do Brasil pós-ditadura militar e à representatividade dos direitos indígenas na década de 1970 e 1980.
"Ainda estou aqui", que se tornou a maior bilheteria do cinema brasileiro no pós-pandemia, conta a trajetória de Eunice para que o governo da ditadura reconhecesse o que fez com seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, que foi levado de casa no Rio de Janeiro por policiais à paisana, em 1971, preso, torturado e morto. O corpo de Rubens Paiva nunca foi encontrado.
Hoje símbolo da busca pelos desaparecidos da ditadura, ao lado de outras mulheres da época, como a estilista Zuzu Angel, mãe do também desaparecido Stuart Angel, Eunice Paiva criou cinco filhos e se tornou advogada considerada uma das principais forças de pressão para reconhecimento de pessoas mortas pelo regime político.
Em 1996, após 25 anos de busca pelo marido Rubens Paiva, ela viu sancionada a chamada Lei dos Desaparecidos, com a emissão do atestado de óbito do ex-deputado, ficando assim oficializada a sua morte.
Direitos indígenas
Após sua formatura na Faculdade de Direito de São Paulo, Eunice Paiva se tornou referência em demarcações de terras indígenas no Brasil, especialmente nas décadas de 1970 e 1980, anos em que intensos conflitos fundiários de terras indígenas, de mineração, garimpo e das grandes rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém estavam em ebulição.
Além de ser uma das fundadoras do Instituto de Antropologia e Meio Ambiente (Iamá), em 1987, que colaborou para a criação de vários projetos de saúde, educação e política para povos indígenas, Eunice Paiva também foi membro da comissão Pró-Índio, de São Paulo, como forte opositora da Funai na demarcação de terras em todo país.
Eunice Paiva viveu até 2018, e morreu aos 86 anos, após conviver 14 anos com Alzheimer.
