O ex-árbitro Sálvio Spínola é incisivo ao criticar a falta de critérios técnicos nas decisões tomadas no comando da arbitragem brasileira. Em entrevista ao 98 Esportes, conduzida por Andersinho Marques, ele apontou como esse cenário impacta o futebol nacional.
"No Brasil são decisões políticas. E aí uma coisa não bate com outra, não dá nem para comparar. Eu acho que esse aí é o modelo. A Itália e vários outros países tem o chamado tutor, aquele que acompanha desde o início [a carreira dos árbitros]", afirmou Spínola ao contrastar a formação de árbitros na Itália com o sistema brasileiro.
Spínola cita exemplos para ilustrar que as decisões na arbitragem brasileira são mais baseadas em "política e paixão" do que em mérito técnico. Ele aponta favoritismos por árbitros a depender de quem está no comando da Comissão de Arbitragem da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
"Só para dar alguns exemplos pra gente não se alongar muito... até pouco tempo atrás a comissão de arbitragem do futebol brasileiro da CBF era comandada pelo Paulista Coronel Marinho. Eu poderia dar aqui alguns nomes de árbitros que ele era apaixonado por eles, não saiam da escala: o Thiago Duarte, o Elmo Rezende, de Goiás, estavam quase todos os jogos apitando. Vamos até parar a lista por aí porque tinham outras listas de apaixonada. Ele foi substituído pelo gaúcho Leonardo Gaciba, que não tinha paixão por esses árbitros, afastou. E aí ele passou a ter paixão por outros árbitros", avalia Spínola.
O ex-árbitro também falou na entrevista sobre um sistema de relatórios de desempenho. Enquanto na Itália, por exemplo, os documentos se concentram em avaliar o desempenho dos juízes durante os 90 minutos de jogo, no Brasil, Spínola menciona ter recebido feedbacks superficiais, como ser repreendido por "arregaçar" as mangas da camisa.
VAR perdeu a credibilidade?
O ex-árbitro ainda avalia que o VAR no futebol brasileiro perdeu a credibilidade e que é urgente tirar a computação gráfica utilizada atualmente no produto. "Vai só pela imagem, não precisa da linha vermelha e da linha azul", diz. Ele ainda completa sobre qual o uso adequado da ferramenta no esporte.
"Sou totalmente favorável ao VAR. É necessário, né!? A gente sabe o quanto que é difícil em algumas situações. Mas o VAR para situações que a gente não consegue ver. O VAR para a mordida do Suárez nas costas do Marco Rodríguez na Copa que teve aqui no Brasil. O VAR para punir o Suárez, que não foi punido dentro do campo. Ele, possivelmente, não daria aquela mordida no Chiellini, nas costas do árbitro mexicano. Aí sim! Agora o VAR não pode ser para corrigir a deficiência da capacidade do árbitro. É para o que não é possível ver, é o que a velocidade está acima da capacidade humana de enxergar", avalia.
Desempenho físico dos árbitros brasileiros
Outra preocupação apresentada por ele também foi a forma física dos árbitros brasileiros. Spínola confirmou que, embora os árbitros sejam aprovados nos testes da FIFA, por vezes não conseguem acompanhar o jogo dentro do campo.
"Eu tenho visto alguns jogos aqui de dentro do campo, o nível de aceleração do jogo está muito grande. E árbitros com 50 anos, 52 anos, 45 anos de idade, não conseguem acompanhar os garotos mais de 17, 18, 20, 25 anos. O preparo físico requer muito mais dinamismo. E aí tem árbitro brasileiro que economiza na velocidade, que não vai naquela última bola, que não dá o sprint, ele torce para que o jogador chute a bola para fora, fica torcendo para o jogador perder a bola, e ele voltar na corrida. Passa no teste físico sim, mas não tem bom desempenho físico nos jogos", opina Spínola.
Assista a entrevista na íntegra abaixo.