Era 8 de junho de 2022 quando a advogada Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, então com 40 anos, foi encontrada morta ao cair do oitavo andar do prédio em que morava do bairro São Bento, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. O caso, tratado na época como suicídio, ganhou um novo capítulo nos últimos meses, após dois anos.
O inquérito policial, concluído em agosto deste ano, aponta Raul Rodrigues Costa Lages, então namorado de Carolina, como responsável pela morte da advogada. Conforme as investigações, o acusado e a vítima tiveram uma briga antes do ocorrido e ele teria jogado ela do oitavo andar do prédio.
Raul foi indiciado por homicídio triplamente qualificado, sendo os agravantes motivo torpe, recurso que impediu a defesa da vítima e feminicídio.
O Ministério Público de Minas Gerais, por meio do promotor Fabiano Mendes Cardoso, encaminhou a denúncia contra Raul ao Poder Judiciário de Minas Gerais. Ela foi aceita ainda em setembro pelo juiz Bruno Sena Carmona e o homem tornou-se réu pela morte da ex-namorada. Ele segue solto enquanto aguarda o julgamento do caso.
O andamento da investigação deu esperança de justiça à família de Carolina, que ainda tenta aprender a conviver com a dor da perda. A advogada deixou dois filhos, frutos de outro relacionamento.
“A gente manteve o silêncio para que o inquérito ocorresse sem interferências. Foi um alívio ver o indiciamento e a denúncia acontecerem. Mas é uma frustração muito grande um sentimento de impunidade real de ver esse cara solto durante esse tempo todo”, lamenta Demian da Cunha, irmão de Carolina.
Namoro conturbado
Carolina e Raul namoraram por cerca de um ano, entre idas e vindas. O irmão da vítima conta que ela tentou terminar o relacionamento quatro vezes por conta do comportamento agressivo do então namorado.
"Ele a fez se afastar das amigas, da família. Pegava o celular dela escondido e, sem ela ver, bloqueava as amigas dela no WhatsApp. Ele não deixava ela ir em nenhum lugar sozinha, até para fazer unha no salão ele ia atrás”, relata Demian.
Os términos também eram muito conturbados, conforme relata o irmão. Em um desses rompimentos, Carolina chegou a fugir para o México em viagem com as amigas.
“Ela soube que as amigas estavam indo em uma viagem e, de última hora, ela foi junto para se afastar dele. Nessa viagem e em outras ocasiões ela relatou para as amigas sobre as agressões físicas dele”, conta.
A noite do crime
Em 8 de junho de 2022, Carolina estava em casa com Raul e os filhos, mas os dois jovens saíram para assistir a um jogo de futebol em um bar. Instantes depois, a mulher foi encontrada morta pelo porteiro do prédio, que ouviu o barulho da queda.
Segundo o inquérito policial, durante aquela noite houve uma discussão entre Raul e a vítima. O homem teria jogado Carolina no chão, que ficou desacordada.
“Estando a vítima desacordada, visto que não foram constatados em seu corpo sinais de defesa, Raul passa a limpar cômodos e colocar roupas de cama para lavagem, vindo, posteriormente, a cortar a tela de proteção da janela da varanda da sala e lançar Carolina do 8º andar”, diz um trecho da denúncia.
Uma vizinha da vítima contou à polícia que ouviu “uma correria” no apartamento de Carolina, seguidos de um barulho muito forte no chão da sala, que a fez levantar-se assustada. Segundo a mulher, o som parecia um objeto caindo ou sendo jogado.
Outro vizinho relatou ter ouvido uma briga vinda do apartamento de Carolina. Ele afirma que, em determinado momento, ouviu uma voz feminina gritar: “Eu não preciso mais te aguentar, aguentar isso ou aguentar você”.
Na época do crime, o então namorado de Carolina afirmou à Polícia Militar que a queda teria ocorrido quando ele estava no elevador indo embora da casa da advogada, versão que foi desmentida pelas imagens de câmeras de segurança do prédio, analisadas no inquérito investigativo da Polícia Civil.
Os vídeos mostram que Raul desceu no elevador quatro minutos depois da queda da mulher. Ele saiu do prédio falando ao celular e tentou arrancar com o carro. Após a chegada de uma ambulância, contudo, ele retornou ao local do crime.
“Os dois depoimentos que ele deu no inquérito foram para atacar a minha irmã. Ele supostamente acabou de perder a namorada para um caso de suicídio e, poucos dias depois, resolve aparecer e dar um depoimento colocando minha irmã como louca e desequilibrada. Essa é a linha de defesa que ele segue até hoje”, diz o irmão de Carolina.
O outro lado
À polícia, na época do crime, Raul Rodrigues Costa Lages disse que o estado emocional de Carolina era instável, com episódios de bipolaridade, e que não havia agressões durante as discussões entre o casal, exceto no dia em questão, quando ele afirma que ocorreu uma agressão por parte dela.
O homem alegou que dias antes do ocorrido a vítima estava “extremamente descontrolada”, consumindo bebidas alcoólicas diariamente e utilizando medicações.
Ainda de acordo com o acusado, a tela da janela teria sido cortada no momento em que Carolina estava retirando as roupas do quarto.
A 98 tentou contato com a defesa do acusado, mas não teve retorno até a publicação desta matéria. Tão logo haja alguma manifestação da parte, o texto será atualizado.