Quando a Fiat lançou o Stilo no Brasil, no final de 2002 (já como modelo 2003), trouxe também um experimento de marca inédito: a italiana queria saber a aceitação da marca Abarth, sua divisão esportiva, pelo público brasileiro. Os brasileiros gostaram, mas o preço não era nada atraente.
Não restou dúvidas que o Abarth foi a melhor versão do Stilo, um hatch médio cheio de tecnologia e inovação. Este colunista que vos escreve foi um feliz proprietário do Stilo Abarth e também de outro esportivo Fiat, o Punto T-Jet, então vocês podem imaginar a minha ansiedade em finalmente colocar as mãos no mais jogo Abarth do nosso mercado, agora na linha Pulse.
Pois é, pode parecer estranho, mas um SUV feito pela Abarth é coisa dos tempos modernos. Se bem que será que podemos mesmo classificar o Fiat Pulse como SUV? Na minha opinião ele não passa de um hatch bombado e isso é muito bom, pois o coloca em plena vantagem comparado a qualquer outro hatch do mercado. Se for comparado a outros SUVs, ele quase não terá vantagens.
Mas a minha maior surpresa durante os dias em que estive com o Pulse Abarth foi ter a certeza que a Fiat honrou sua divisão esportiva e fez algo realmente diferenciado nesse carro. A máquina é esportiva mesmo!
(Fiat / Divulgação)
Veneno adicional
Os mais puristas podem dizer que nunca viram um “esportivo” com motor 1.3. Só entro nessa discussão depois que o reclamante der uma volta ao volante do Abarth. Sim, é o mesmo motor de Renegade, Toro, Commander e Compass, porém vem com um veneno a mais. Os 185 cv que o bloco rende são muito mais nervosos. O Pulse Abarth foi todo pensado para ser mesmo um esportivo. Esqueça o Fiat Pulse “sem graça” que você conhece.
Para começar, a suspensão foi rebaixada em 10 mm e ele continuou altinho, mas com centro de gravidade mais baixo, sendo muito notável ao volante. O Pulse Abarth não só acelera mais forte, como também é mais firme e estável nas curvas. Além disso, com o modo “Poison” (veneno em português) em ação, a direção ganha peso e destaca o ajuste de carro esportivo. Acionando esse modo pelo botão vermelho no volante, o Pulse Abarth muda bem de comportamento. O câmbio CVT com marchas virtuais estica e faz trocas notavelmente mais próximo ao limite, e deixa o motor 1.3 litro encher os cilindros à vontade. Não é propaganda enganosa, o carro entrega aquilo que promete.
(Fiat / Divulgação)
É um verdadeiro prazer em dirigir. Posso dizer categoricamente que o Pulse Abarth é carro para quem gosta de carro e não apenas para quem quer um transporte mais descolado.
Digo descolado por causa dos adereços do escorpião, que não apenas identificam a versão envenenada como reforçam a aparência esportiva com muito bom gosto.
As rodas aro 17 polegadas pintadas em preto brilhante ornam bem com o desenho e vai ficar ainda melhor pois a linha 2024 virá com opcional de rodas aro 18 polegadas.
É muito diferente do meu Pulse?
É sim, muito diferente! Para começar, não há emblemas da Fiat. Um desavisado não saberia dizer que grande marca está por trás daquele escorpião. Além disso, a versão esportiva tem freio eletrônico de estacionamento, algo que o restante da gama Pulse não tem. Assim, não há alavanca do freio de mão e o console central se prolonga por entre os bancos dianteiros, com um porta objetos central.
(Fiat / Divulgação)
O acabamento se diferencia com um friso vermelho que percorre o painel de ponta a ponta. E com a plaquinha que identifica a versão Abarth no canto direito. O couro de ótima qualidade que cobre os bancos (que apoiam muito bem o corpo) tem costuras vermelhas aparentes e traz o símbolo do escorpião em baixo relevo nos encostos. Mas a cereja do bolo é o volante com o botão poison e o escudo da Abarth.
Com essa simples troca de emblemas, o motorista se sente em um modelo esportivo italiano, mas feito em Betim (MG). O detalhe da chave com o nome Abarth é outro elemento legal. A saída dupla do escape traseiro tem um ronco inconfundível e isso quem está dizendo é quem já teve os esportivos da marca (Stilo Abarth e Punto T-Jet). O capricho é nítido.
Polêmica na traseira
Os motivos que levaram a Fiat em colocar um freio a tambor nas rodas traseiras ao invés de discos, como todos os esportivos São e até muitos que não são esportivos (a jurássica Saveiro, tema da coluna anterior, tem freio a disco nas quatro rodas, para você ter uma ideia), não são muito claros. Mas é óbvio que isso passa ali pela economia.
(Fiat / Divulgação)
Apesar de ser uma econômica desnecessária e parecer até algo feio para um carro feito pela divisão esportiva, na prática, o freio a disco traseiro não pareceu fazer falta. Mas nós sabemos que eles fazem falta sim, mas numa pista de teste. Mas sendo racional: você anda todos os dias na Cristiano Machado ou na pista do Mega Space?
Então releve esse detalhe é vá ser feliz.
Vale a pena?
Para quem valoriza um carro com ronco de esportivo e que vai de 0 a 100 km/h em 7,6 segundos e tem velocidade máxima de 215 km/h, não há dúvidas de que esse é o melhor modelo nessa faixa de R$ 150 mil. Nenhum esportivo te entrega tudo isso por esse valor, infelizmente.
(Marcello Oliveira / Arquivo Pessoal)