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Bolívia: Cuidado! Há muita falsificação na praça

Tentativa de golpe não pode esconder o fato de que o país comandado por populistas de esquerda tenta ser, mas não é uma democracia


Augusto de Franco

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Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem


Nesta quarta-feira (26) fomos surpreendidos por uma tentativa de golpe à moda antiga na Bolívia, com tropas nas ruas. Isso não é bem novidade naquele país. Mas revela que o regime boliviano nunca conseguiu pacificar as forças reacionárias enquistadas nas forças armadas.

O golpe militar intentado tem de ser repudiado por todos os democratas. Entretanto, isso não pode elidir o fato de que a Bolívia é um regime eleitoral parasitado, desde o início do século, por governos populistas de esquerda (Evo Morales e Luis Arce).

Evo Morales, o principal líder populista do país, é um militante bolivariano, do "socialismo do século 21", anticapitalista e contra-liberal, aliado de Chávez e Maduro, Correa, Lula, Ortega, Lugo, Funes, Obrador, Petro, Zelaya e Xiomara, que assumiu o poder em 2006 e só deixou em 2019, após três mandatos consecutivos.

A Bolívia tem longa tradição de quarteladas. Mas, neste século, tudo que acontece na Bolívia tem a ver com o populista bolivariano Evo Morales, do Movimento ao Socialismo. Não contente de ter alterado as leis para ficar no governo por três mandatos consecutivos, ele quer mais.

A imprensa chapa-branca fala da democracia na Bolívia, como se aquilo lá fosse uma Dinamarca, uma Nova Zelândia, ou mesmo um Reino Unido. É engraçado. O partido de Luis Arce e Evo Morales (o MAS, Movimento ao Socialismo) usa a via eleitoral, por certo. Mas para manter os populistas bolivarianos no governo indefinidamente.

Desde o início do século a Bolívia é um regime eleitoral parasitado por governos populistas (auto-declarados socialistas). Eles amam de paixão as eleições, mas odeiam a alternância democrática. Evo chegou ao governo em 2006 e ficou até 2019. Quer voltar para ficar até, quem sabe, 2039.

Na Bolívia o partido do governo não se chama Movimento à Democracia, como seria de se esperar (e sim Movimento ao Socialismo, mas de qual socialismo os bolivarianos estão falando?). Esse partido (ao qual pertencem Evo e Arce) controla o judiciário e revoga as decisões do parlamento, onde o governo é minoria. Entenderam?

Há muita falsificação na praça. Sobretudo divulgada pela imprensa chapa-branca que parasitou grandes meios de comunicação. O Movimento ao Socialismo, partido do governo, adotou a via eleitoral para chegar ao poder e nele se delongar indefinidamente, mas não está convertido à democracia. Interfere no judiciário para reverter as decisões do parlamento (onde é minoria), usando uma fórmula chavista.

Em 2019 não houve propriamente um golpe contra a democracia na Bolívia. Quem estava tentando dar um golpe era o Evo Morales, que perdeu um plebiscito para obter um quarto mandato e usou a suprema corte (que controlava) para alterar o resultado das urnas. Em 2017 o judiciário - confrontando abertamente as leis - autorizou-o a concorrer a mais um mandato em eleições fraudadas (como foi amplamente denunciado pela OEA e pela União Europeia). Foi aí que veio a tentativa de auto-golpe, frustrada, que levou à situação atual.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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