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Imagem: Revista OVNI Pesquisa

É possível que tenham existido gigantes na Antiguidade?

Vanderley de Brito


Paulo Baraky Werner

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Jornalista e escritor. Ufólogo e pesquisador de campo. Editor da Revista OVNI Pesquisa e fundador do Cipfani - Centro de Investigações e Pesquisas de Fenômenos Aéreos. Colunista da coluna "De outro mundo" no Rádio Cast.


Gigantes são personagens comuns em folclores e lendas antigas, tidos como uma espécie humanoide de grande estatura que habitava a Terra. Crendices sobre gigantes foram registradas em diversas fontes da Antiguidade, seja nos vários poemas gregos sobre a guerra entre os deuses e os titãs, até referências na Bíblia, onde são chamados de nefilins.

Porém, esta ideia absurda nunca foi ensurdecida e ainda hoje há quem defenda a existência de gigantes num passado remoto da humanidade, cuja pedra angular destas suposições é que as provas, além dos registros escritos, podem ser vastamente encontradas em pinturas rupestres, pegadas solidificadas em rochas e até ilustrações em baixos-relevos egípcios que mostram, às vezes, um humano maior que os demais. Estátuas gigantescas também são tomadas como “fundamento” para a ideia de que gigantes existiram. 

Quase sempre, a ideia é de que tais gigantes eram seres vindos de outros planetas e que foram eles que construíram as grandes obras da humanidade, como as pirâmides do Egito. A Bíblia e mitologias antigas registram que estes seres agigantados seriam produto do cruzamento entre mulheres humanas e anjos, ou deuses.

Não pretendemos desacreditar estas fontes, mas é importante ressaltar que suas narrativas não devem ser lidas de forma literal. Também devemos levar em conta os erros de tradução, especialmente da antiquíssima e sagrada obra hebraica. Por exemplo, aceitar a tradução de “nefilim” como “gigantes” é um erro. O termo deriva do hebraico “nüpìlîm”, que quer dizer “desertores, caídos, derrubados”, e no sentido textual diz respeito aos descendentes de Caim, considerados espíritos em queda por terem se afastado dos caminhos do Criador e, portanto, a expressão nefilim tinha um significado contrário ao dos verdadeiros fiéis e, naturalmente, estes nefilins eram tidos como bestiais, uma vez que não estavam em harmonia com as leis do Senhor. 

Uma vez que o sentido do termo foi adulterado pela tradução, a única vez em que a Bíblia expressamente relata um gigante é no livro de Samuel, quando se refere a Golias. Mas, todavia, o Golias não era tão gigante assim, pois este guerreiro filisteu teria a altura de quatro côvados e um palmo. Ou seja, em torno de 2,38 m.

Seja como for, Golias era um homem que tinha uma altura muito além do comum, mas a Bíblia não diz que ser gigante era uma característica genérica dos filisteus. Esta prerrogativa foi dada apenas a Golias, pois outra personagem filisteia presente na Bíblia foi Dalila (aquela que privou Sansão de sua força cortando seu cabelo), e em nenhum momento ela é dada como uma mulher gigante. Com efeito, em 2016 arqueólogos escavaram na costa mediterrânica um cemitério filisteu e as escavações revelaram que eles tinham um “tamanho normal” e não foi encontrado nenhum “gigante” segundo o modelo de Golias.

Portanto, como Golias é a única pessoa dada como gigante na Bíblia é provável que ele tivesse mesmo esta altura admirável, mas isso também não é coisa do outro mundo, pois a História recente registra outras pessoas bem maiores que ele, como o turco Sultan Kosen, com 2,51 m de altura, e Robert Wadlow, que tinha impressionantes 2,72 m de altura, de acordo com o Guinness. Aqui na Paraíba, na cidade de Assunção, o jovem Joelison Fernandes da Silva, mais conhecido como Ninão, tem 2,37 m de altura, ou seja, somente um centímetro a menos que o Golias bíblico.

Apesar disso, estamos nos referindo aqui a vítimas de uma anomalia chamada de gigantismo, uma alteração causada pelo excesso de produção do hormônio do crescimento que acontece por causa de um tumor benigno na glândula pituitária. Este tipo de anomalia só é encontrado em três pessoas a cada milhão e na Antiguidade a disfunção, certamente, também atingia uma pequena parcela de pessoas, assombrando quem os encontrasse. 

Dispomos, portanto, de ponderáveis argumentos para suscitar que Golias pode ter sofrido de gigantismo. Isso explicaria, por exemplo, o fato de ele ter sido tão facilmente abatido por um jovem franzino como Davi, pois o gigantismo causa dificuldade para andar e retarda os reflexos. O paraibano Ninão, que é hoje o maior homem do Brasil, com apenas 35 anos de idade está há mais de dois anos sem poder andar por conta de problemas causados pela sua altura e peso.

Também havia na Antiguidade povos de estatura acima da média geral, como os nórdicos, por exemplo, também conhecidos como vikings, que habitavam a região ao norte da Europa e cuja altura dos homens ia até 1,80 m, bem maior em comparação com a altura dos outros povos, a qual variava de 1,58 a 1,70 m. Do mesmo modo, se hoje entrássemos no vestiário de um time de basquete nos sentiríamos na terra dos gigantes.

Seja como for, com certa leviandade, notícias fantasiosas permeiam a internet com imagens nitidamente montadas de esqueletos humanos descomunais “descobertos por arqueólogos” em diversas partes do mundo que, embora escapem a qualquer padrão inteligível, satisfazem um público ávido por sensacionalismo. Porém, as mesmas imagens já foram usadas em outras ocasiões e, portanto, são montagens absurdas, sem suporte comprobatório, que somente pessoas muito ingênuas dão credibilidade.

Outro tipo de registro do passado que também suscita especulações da existência de gigantes são as estátuas gigantescas, que por alguns, em recusa à realidade, são tidas como representantes de gigantes, quando, na verdade, foram feitas com o propósito de impressionar, algumas para repelir invasores, como os moais da Ilha de Páscoa, e outras a título de símbolos de soberania para serem vistas de longe, como o Colosso de Rodes e as esfinges do Egito. Mas é claro que não retratavam dimensões de pessoas verdadeiras. Se assim fosse, teríamos de considerar o Padre Cícero como um gigante que viveu no Brasil, pois, no Ceará, na Colina do Horto, há um monumento de 27 m reproduzindo o Santo Padre do Juazeiro.

Outros sensacionalistas (mais descabidos) utilizam caprichos da natureza para apoiar a existência de tais seres descomunais, como o suposto gigante adormecido da Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, e pretensas formas de pegadas humanas gigantes endurecidas na rocha. É interessante evidenciar que estas supostas provas são resultantes de eventos geológicos de bilhões de anos atrás, dos tempos em que não havia a possibilidade de existir qualquer forma de vida complexa na Terra.

Contudo, o maior apelo à suposta existência de gigantes no passado são as pinturas rupestres e murais antigos encontrados, sobretudo, no Egito e na Mesopotâmia. Algumas porque possuem as imagens dos reis ou nobres consideravelmente maiores do que as pessoas normais. Mas, sabemos que isso é uma forma gráfica de diferenciar "reis, rainhas ou grandes líderes" dos povos simples. Já quanto às pinturas rupestres e murais, que às vezes apresentam seres humanos supostamente gigantes em relação aos demais presentes no cenário, são tidos por gigantes pura e simplesmente por uma questão de perspectiva.

Nas montanhas de Tassili n’Ajjer, no Saara argelino, pinturas rupestres apresentam um ser humanoide muito superior a outro ser, figura que fez os mercadores do irracional suscitar que se trataria de um ser alienígena e gigante. Igualmente, num mural egípcio aparecem dois homens de tamanho descomunal e uma girafa entre eles. Estas imagens, largamente divulgadas na internet, de fato, são bem aliciadoras para atender os apetites de massa, mas não têm qualquer mistério a ser exorcizado. Na verdade, nestas pinturas e murais, que datam entre 30 mil e 5 mil anos, é possível perceber noções de perspectivas e variações de planos. No entanto, ordinariamente, quem levanta tal hipótese fantasiosa o faz de forma no mínimo paradoxal, pois, ao passo em que realça os conhecimentos avançados dos antigos egípcios, desconsideram avanços estéticos em sua arte. Porém, para o dissabor dos fantasiosos, em ambas as exemplificações os artistas utilizaram o recurso da perspectiva, uma forma de expressão artística que utiliza o efeito visual de planos convergentes para criar a ilusão de tridimensionalidade do espaço e das formas quando estas são representadas sobre uma superfície bidimensional, de modo que as figuras maiores estão no plano mais próximo e as menores em planos mais distantes.

Portanto, cientificamente falando, os chamados gigantes do mundo antigo jamais poderiam ultrapassar 3 m, pois, segundo a Lei do Quadrado do Cubo, desenvolvida por Galileu, conforme o corpo cresce em todas as dimensões a estrutura enfraquece progressivamente, de modo que não podemos crescer naturalmente muito além de 2,20 m, mais do que isso o corpo humano não suporta. Por isso, gigantes, como o Gulliver, só mesmo no mundo da ficção. 


* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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