Opinião

  1. Notícias
  2. Opinião
  3. Educação e mercado de trabalho, como superar o desafio da defasagem curricular?
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Educação e mercado de trabalho, como superar o desafio da defasagem curricular?


Harlen Duque

Notícias

CEO Sucesu Nacional e líder em transformação Digital na Wblio , especialista em transformação de negócios pela Stanford University , piloto de automobilismo virtual e um apaixonado pela cultura de inovação


A educação é um dos pilares fundamentais para o desenvolvimento pessoal e profissional de qualquer indivíduo. Por meio dela, é possível adquirir conhecimentos, habilidades e competências que são essenciais para a inserção e a permanência no mercado de trabalho. No entanto, muitas vezes, o que se aprende nas escolas e faculdades não está alinhado com as demandas e as tendências do mundo atual, que é marcado pela constante inovação tecnológica e pela transformação digital.

Essa situação gera uma defasagem curricular, ou seja, uma lacuna entre o que é ensinado nas instituições de ensino e o que é exigido pelos empregadores e pelas necessidades no mercado. Essa defasagem pode comprometer a empregabilidade e a competitividade dos profissionais e por consequência de países que podem ficar obsoletos ou despreparados para as novas oportunidades que surgem a cada dia.

 

Defasagem curricular x necessidades do mercado

A defasagem curricular é um problema que afeta tanto os profissionais que já estão no mercado quanto os que estão em formação. Segundo uma pesquisa da GeekHunter, o número de vagas abertas na área de tecnologia cresceu 310% em 2020, mas ainda faltam profissionais qualificados para preenchê-las. Outro estudo da McKinsey aponta que até 2030, cerca de 375 milhões de trabalhadores terão que mudar de ocupação ou adquirir novas habilidades por causa do avanço da automação.

Esses dados mostram que há uma grande demanda por profissionais com competências digitais, como programação, análise de dados, inteligência artificial, cibersegurança, entre outras. No entanto, muitos cursos não acompanham as mudanças e as novidades do setor, deixando os estudantes desatualizados ou com conhecimentos superficiais.

Além disso, não são apenas os cursos de tecnologia que precisam se adaptar às necessidades do mercado. Todas as áreas do conhecimento estão sendo impactadas pela revolução digital e pela globalização, exigindo dos profissionais habilidades como criatividade, pensamento crítico, comunicações, colaboração, resolução de problemas, aprendizagem contínua, entre outras. Essas habilidades são chamadas de soft skills, e são cada vez mais valorizadas pelos empregadores.

No entanto, muitos cursos ainda seguem um modelo tradicional de ensino, baseado na transmissão de conteúdos teóricos e na memorização de fórmulas e conceitos. Esse modelo não estimula o desenvolvimento das soft skills nem a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos. Além disso, muitos cursos não oferecem oportunidades de intercâmbio cultural, estágio supervisionado, projeto integrador ou outras atividades que possam ampliar a visão de mundo e a experiência dos estudantes.

Segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 75% dos cursos superiores no país não contemplam as habilidades digitais exigidas pelo mercado.

Essa situação gera um descompasso entre a formação dos profissionais e as necessidades das empresas, que buscam cada vez mais perfis qualificados para lidar com as inovações tecnológicas. De acordo com o relatório do Fórum Econômico Mundial (FEM), até 2022, 42% das tarefas profissionais serão realizadas por máquinas ou algoritmos. Isso significa que muitas ocupações serão substituídas ou transformadas pela tecnologia, exigindo novas habilidades dos trabalhadores.

 

A necessidade de estudos contínuos: o conceito de "lifelong learning"

Diante desse cenário de defasagem curricular e de mudanças constantes no mercado de trabalho, surge a necessidade de estudos contínuos por parte dos profissionais. Não basta mais concluir uma graduação ou uma pós-graduação e achar que está pronto para enfrentar os desafios da carreira. É preciso estar sempre se atualizando e se aperfeiçoando para acompanhar as novidades e as tendências da sua área de atuação.

É nesse contexto que surge o conceito de lifelong learning, ou aprendizagem ao longo da vida. Esse conceito defende que a educação deve ser permanente e voluntária, e não limitada a um período ou a uma etapa da vida. O lifelong learning é uma postura de busca constante por novos conhecimentos e habilidades, que podem ser adquiridos de diversas formas, como cursos livres, cursos online, workshops, palestras, livros, podcasts, vídeos, entre outros.

O lifelong learning traz diversos benefícios para os profissionais, como:

  • Aumento da empregabilidade e da competitividade no mercado;
  • Ampliação das oportunidades de carreira e de renda;
  • Desenvolvimento das competências técnicas e comportamentais;
  • Adaptação às mudanças e às inovações tecnológicas;
  • Estímulo à criatividade e à resolução de problemas;
  • Melhoria da autoestima e da confiança;
  • Enriquecimento da vida pessoal e profissional.

 

O que precisa ser feito de forma imediata para se atualizar a grade curricular das faculdades?

Para superar o desafio da defasagem curricular, é preciso que haja uma ação conjunta entre as instituições de ensino, os professores, os estudantes e os empregadores. Cada um desses atores tem um papel importante para garantir que os cursos estejam alinhados com as necessidades do mercado e com as expectativas dos profissionais.

As instituições de ensino precisam revisar e atualizar constantemente as suas grades curriculares, incorporando novos conteúdos, metodologias e tecnologias que possam enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. Além disso, elas precisam oferecer uma formação integral aos seus estudantes, que contemple tanto as hard skills quanto as soft skills. Para isso, elas podem promover atividades extracurriculares, como projetos interdisciplinares, visitas técnicas, eventos acadêmicos, entre outras.

Os professores precisam se capacitar continuamente para dominar os novos  conhecimentos e as novas ferramentas da sua área de atuação. Além disso, eles precisam adotar uma postura mais facilitadora do que transmissora do conhecimento, estimulando a participação ativa dos estudantes nas aulas. Eles também precisam diversificar as suas estratégias de ensino, utilizando recursos como jogos, simulações, casos reais, entre outros.

Os estudantes precisam assumir a responsabilidade pelo seu próprio aprendizado, buscando complementar a sua formação com outras fontes de informação e conhecimento. Eles também precisam desenvolver a autonomia, a curiosidade e a proatividade para buscar novas oportunidades de aprendizagem dentro e fora da sala de aula. Eles também precisam estar abertos ao feedback e à avaliação contínua do seu desempenho.

Os empregadores precisam estabelecer uma parceria com as instituições de ensino, contribuindo para a elaboração dos currículos e dos projetos pedagógicos dos cursos. Eles também precisam oferecer vagas de estágio, trainee ou emprego para os estudantes e recém-formados, proporcionando experiências práticas e reais que possam agregar valor à sua formação. Eles também precisam investir na educação corporativa dos seus colaboradores, incentivando o lifelong learning dentro da organização.

 

Conclusão

A educação é um fator determinante para o sucesso profissional no mercado de trabalho atual. No entanto, muitos cursos ainda apresentam uma defasagem curricular em relação às demandas e às tendências do mundo contemporâneo. Se continuar dessa forma essa defasagem irá criar um abismo entre as demandas reais e a capacidades das pessoas.

O maior desafio da transformação Digital como sempre falo é de cultura, pessoas e mindset e não do uso e aplicação das ferramentas tecnológicas. Precisamos educar as nossas crianças e os jovens para o mundo real e tech e não o que não mais existirá.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
Colunistas

Carregando...

Saiba mais