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Imagem: Reprodução / Internet | Atlético / Divulgação

Galo vive uma triste noite romana

Ontem, lamentavelmente, presenciei, “in loco”, as Catilinárias alvinegras e lhes confesso: saí de lá pequenininho, pequenininho


Ricardo Kertzman

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Empresário, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, discutiu com o obstetra e reclamou do hospital. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração


John Donne, poeta inglês e pastor anglicano (1572–1631), cunhou uma das mais célebres passagens da literatura mundial: “a morte de cada homem diminui-me, porque eu faço parte da humanidade; eis porque nunca pergunto por quem dobram os sinos: é por mim”.

Já o Talmud, uma compilação de leis judaicas, nos ensina: “quem salva uma vida salva o mundo inteiro". Juntando lé com lé e cré com cré - o máximo que este limitado aqui é capaz -, ou seja, as sabedorias anglicanas e judaicas, arrisco-me a dizer que: a morte de cada atleticano diminui-me. Ou: quem salva um atleticano salva o Atlético inteiro.

O FUNDO DO POÇO

Nesta quinta-feira (30), em assembleia geral do Conselho Deliberativo, os presentes ao auditório da sede de Lourdes presenciaram uma das mais tristes passagens destes 115 anos de gloriosa história alvinegra. A expulsão - mais do que justa e justificada - de um conselheiro benemérito diminuiu indistintamente todos os atleticanos, mas, igualmente, salvou todos estes.

Confesso que, poucas vezes na vida, me senti tão envergonhado por alguém. Ao mesmo tempo, poucas vezes me senti tão triste por alguém. Finalmente, poucas vezes me senti tão angustiado perante a vilania. Uma coisa é tomar conhecimento, pela TV e jornais, de tragédias humanas. Outra, bem diferente, é presenciar uma.

NOITE PARA SE ESQUECER

Durante a leitura do relatório do Conselho de Ética do Clube pelo presidente Marcus Vinícius Vieira, que acolheu a reclamação de mais de 100 conselheiros e recomendou a cassação do título de conselheiro benemérito do Sr. Cláudio Utsch, bem como sua pronta expulsão do quadro associativo do Galo, a cada ofensa impublicável e a cada demonstração do mais torpe sentimento sob a forma de palavras, eu me encolhia e diminuia como ser humano.

Mais de 150 conselheiros, como eu, chocados, atônitos, em silêncio sepulcral ouviram os depoimentos de dois senhores (dois idosos) que doaram, literalmente, a vida ao Galo, especificamente aos clubes de lazer, Vila Olímpica e Labareda, onde são presidentes. Ambos leram, com lágrimas nos olhos e voz embargada, as ameaças e ofensas que receberam do agora ex-conselheiro Utsch.

UNANIMIDADE

Não foi à toa, portanto, que a decisão de cassação e expulsão - doída para todos - se deu por unanimidade. Nenhuma alma ali presente reuniu forças sequer para pedir clemência ao acusado. Em publicações nas redes sociais, em mensagens em grupos de WhatsApp, em ameaças de violência física e desejos doentios de doença e morte, Cláudio Utsch, um delegado da Polícia Civil, fez por merecer a pior sentença.

Quando o presidente do Conselho, Ricardo Guimarães - uma das muitas vítimas deste senhor, aliás - colocou em votação o relatório (aprovado, repito, unanimemente por mais de 150 membros), o isolamento e a solidão de Utsch me lembraram Cícero. Arrepia-me a espinha imaginar o sentimento de vergonha do senador Catilina diante tamanha desonra pública. Ontem, lamentavelmente, presenciei, “in loco”, as Catilinárias alvinegras e lhes confesso: saí de lá pequenininho, pequenininho.

Ricardo Kertzman

Conselheiro do Clube Atlético Mineiro

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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