Uma cena me chamou a atenção no último domingo. Vinha pela Fernão Dias em direção a BH, quando observei à distância um carro parado e dele sair uma pessoa com uma pequena tocha na mão e atirá-la contra a vegetação. Imediatamente as chamas subiram. Uma camionete que passava ao meu lado buzinou e sinalizou que fossemos atrás do veículo que transportava o incendiário. Não conseguimos encontrá-lo, talvez porque tenha entrado em alguma saída vicinal da rodovia.
Os incêndios nesta época do ano são comuns, mas os criminosos são anômalos e esse ano parece vir em grande número. O governo de São Paulo já mobiliza suas forças de segurança na prevenção e na captura dos piromaníacos de plantão. Em Minas Gerais são mais de 150 homens dos Bombeiros Militares e mais de 400 brigadistas envolvidos no combate às chamas que ardem, principalmente, nas encostas e nas reservas de vegetação do estado.
As penas são brandas. A lei 9.605 que trata das condutas lesivas ao meio ambiente prevê, em seu artigo 41, pena de reclusão de dois a quatro anos e mais multa se os incêndios forem provocados de maneira proposital, e em parágrafo único, detenção de seis meses a um ano se o crime for culposo. São penas que não inibem o cometimento do crime e que diante das dificuldades de investigação e captura dos incendiários ficam quase que inaplicáveis.
Rumores de que os incêndios no interior de São Paulo e no Triângulo Mineiro tenham sido orquestrados para que fossem deflagrados numa mesma hora deixam as autoridades da segurança e do meio ambiente atentas. Circulam também informações de que tal orquestração criminosa tenha um fundo político, ideológico. Por enquanto são especulações, mas a se julgar a absoluta loucura que a polarização conduz os rumos das nossas vidas, se tais fatos forem comprovados a onda de incêndios na região Sudeste do país podem nos levar a um caminho sem volta na briga política em ano eleitoral.
Se as coincidências de horário de deflagração dos incêndios for apenas uma coincidência devemos nos preocupar com tal pontualidade. Se não, devemos nos envergonhar como brasileiros com tão baixa qualidade da cidadania por nós exercida.