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Imagem: Reprodução / pt.org.br

O mediador de acordos de paz imaginários


Augusto de Franco

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Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem


Na noite do último sábado (24/08) Brasil e Colômbia lançaram nota (divulgada por Lula em seu perfil no X, antigo Twitter) defendendo Maduro contra sanções. Fazem de conta que exigem as atas eleitorais (agora sob sigilo eterno) e reconhecem a decisão ilegal da corte ditatorial ao dizer: "Brasil e Colômbia tomam nota da decisão do TSJ".

Argentina, Costa Rica, Chile, Equador, Estados Unidos, Guatemala, Panamá, Paraguai, Perú, República Dominicana e Uruguai rechaçaram anúncio da Suprema Corte venezuelana que deu a vitória a Maduro. E o Brasil. Ora... Lula e Amorim pediram para incluir o Brasil fora dessa lista!

Mais uma vez o governo Lula não teve a dignidade de condenar a fraude eleitoral de Maduro.

Sobre a condenação da fraude de Maduro, o Brasil de Lula quer ficar longe da posição majoritária dos países das Américas. Só fala em Colômbia, supostamente para formar com o populista Petro um "bloco" com a posição justa (antes procurou também o México, mas o populista Obrador pulou fora do tal bloco).

Chega a soar ridículo. Jornalistas amestrados tentam ainda justificar dizendo que isso é porque Colômbia e Brasil serão os mais afetados com o novo êxodo venezuelano (sobre o México dão outra desculpa, alegando que lá foi eleita nova presidente). Mas de todo modo a informação é falsa. Depois da Colômbia (2,85 milhões), quem recebe mais refugiados da ditadura de Maduro é o Peru (1,5 milhão) e o Chile acolhe quase a mesma quantidade que o Brasil (cerca de meio milhão de migrantes).

É uma desfaçatez, um insulto à nossa inteligência, dar a desculpa de que nunca tomamos posição contra ditaduras porque queremos ser mediadores de futuros conflitos imaginários. Que merda de mediação o Brasil fez nos governos Lula? Nunca mediou nada. Só fez propaganda enganosa.

É um padrão.

Em 2010 Lula tentou mediar o conflito israelo-palestino, mas era só conversa. No mesmo ano, juntou-se ao protoditador Erdogan, da Turquia, para anunciar um suposto acordo nuclear com o Irã, que também era só propaganda, quem sabe já de olho em um futuro Premio Nobel da Paz.

O padrão se repete.

Lula em 2024. Não posso condenar a fraude eleitoral de Maduro porque tenho que preservar meu papel de mediador num futuro acordo de paz entre governo e oposição.

Lula em 2022. Não posso condenar (a não ser de mentirinha) a invasão da Ucrânia por Putin porque tenho que preservar meu papel de mediador num futuro acordo de paz. De mentirinha porque, depois disso, Lula sabotou as sanções dos países democráticos à Rússia e multiplicou por dez ou mais o comércio do Brasil com aquela ditadura, financiando indiretamente a invasão imperialista eurasiana da Europa.

Poderíamos recuar no tempo até, quem sabe, à invasão do tribalismo patriarcalista dório em Esparta, Creta e Siracusa. Mas fiquemos no século passado.

Lula em 1968 (se estivesse ligado ao assunto). Não posso condenar a invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética porque tenho que preservar meu papel de mediador num futuro acordo de paz.

Lula em 1939 (se estivesse vivo). Não posso condenar a invasão da Polônia por Hitler porque tenho que preservar meu papel de mediador num futuro acordo de paz.

Está claro, não? Esse comportamento politicamente delinquente nada tem a ver com paz e sim com proteção às ditaduras.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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