Opinião

  1. Notícias
  2. Opinião
  3. O que não dizer para uma pessoa deprimida?
Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O que não dizer para uma pessoa deprimida?

Saiba diferenciar os sintomas da tristeza dos de uma depressão e como abordar melhor uma pessoa que apresente sintomas depressivos


Ana Luiza Prates

Entretenimento

Psiquiatra, especialista em Dependência química, Psicoterapia cognitivo comportamental , Neurociências, Mindfulness e Psicologia Positiva. Professora e Idealizadora do Curso de Saúde emocional da mulher. Colunista do Rádio Cast.


Oscilações em nosso humor no dia a dia são perfeitamente comuns e até mesmo esperados. Diante de uma notícia, podemos ter diferentes reações, emoções e comportamentos.

Imagine que você vê um mendigo sentado no meio fio de uma rua qualquer. Cada um de nós pode ter diferentes tipos de emoção diante desse fato. Alguns de nós podem sentir tristeza por ver o homem nessa situação, outros podem experimentar sensação de raiva e culpar o sistema social, outros ainda podem ter medo de que o homem os assalte… e até mesmo alguns podem sentir gratidão e alegria pelo fato de não estarem, eles próprios, na situação do pobre homem.

Fatos ocorrem, oscilamos em nossas emoções e sensações, temos comportamentos de acordo com o que sentimos e até aí tudo bem.

Agora vamos falar um pouquinho da tristeza, essa emoção normal para todos nós e que muitas vezes não queremos sentir ou queremos fugir dela. A tristeza é uma emoção que permeia nossa vida. Mas tenho sentido que, muitas vezes, as pessoas pararam de se referir a ela. Por um lado, querem escondê-la e estar sempre felizes e eufóricos. Por outro lado, ao se sentirem tristes, as pessoas se referem a ela como depressão.


Mas o que afinal é a depressão?

A depressão é um transtorno mental catalogado na CID (Classificação internacional de doenças), que consiste em sintomas de tristeza, sim, mas não apenas eles.

Os sintomas que ocorrem em uma depressão são: humor deprimido (tristeza), irritabilidade, alterações no sono para mais ou para menos (com sonolência ou insônia associadas), alterações no apetite para mais ou para menos (com ganho ou perda de peso), desânimo intenso, sensação de perda de prazer ou interesse pelas coisas que antes gostava de fazer, falta de libido e energia, pessimismo intenso e, em casos mais severos, até mesmo pensamentos de morte, culpa excessiva e ideias ou tentativas de acabar com a própria vida.

Todos esses sintomas ou a maior parte deles necessitam ser graves ao ponto de prejudicar a funcionalidade do indivíduo e precisam estar presentes por duas semanas ou mais para que seja dado o correto diagnóstico de uma depressão.

Agora que ficou mais clara a diferença entre uma tristeza momentânea e um quadro depressivo, gostaria de pontuar aqui o que não dizer para uma pessoa deprimida ou, em outras palavras, como melhor abordar alguém que esteja com depressão.

Você sabia que existem algumas coisas que devemos evitar dizer para pessoas com depressão? Vou trazer aqui alguns exemplos do que NÃO funciona e que não devemos falar para uma pessoa deprimida:

  1. “Se anime!” …. O humor deprimido é um dos principais sintomas da depressão e, por mais que a pessoa se esforce, sentir alegria ou ânimo deixa de ser algo opcional e que ela tenha domínio sobre isso;
  2. "Você não tem motivos para se sentir assim”..... A depressão, além de poder ser desencadeada por acontecimentos traumáticos, tem componentes multifatoriais, dentre eles um fator biológico muito importante: o desequilíbrio de neurotransmissores como serotonina e dopamina está intimamente relacionado à incidência desse transtorno. Portanto, uma pessoa aparentemente sem os tais motivos para ter esses sintomas, pode SIM desenvolver a depressão;
  3. "Isso é preguiça!”..... A falta de motivação e dificuldade na realização de tarefas até mesmo básicas do cotidiano é comum, sendo uma das principais queixas de pacientes depressivos. Nesse momento, devemos ser empáticos e não contribuir ainda mais nas cobranças e julgamentos;
  4. “Você tem que dar conta de seus próprios problemas!”..... Como já dito anteriormente, não se trata de não querer dar conta, mas sim de não conseguir fazer isso por si próprio. Devemos entender que nosso cérebro é um órgão também passível de adoecimento e que devemos tratar seus transtornos com a mesma seriedade que trataríamos uma doença cardíaca, uma pneumonia e até mesmo uma fratura do nosso dedo mínimo;
  5. “Você tem que ter mais fé e se livrar desses medicamentos”..... Além de inadequada, essa fala é extremamente prejudicial para o controle dos sintomas depressivos. Logicamente a fé importa, seja ela qual for, mas o controle medicamentoso- e até mesmo uma internação hospitalar em casos mais graves- são imprescindíveis e podem mudar o curso da doença e promover uma melhor qualidade de vida para o deprimido.

 

Em suma, quando abordamos uma pessoa deprimida, devemos ser empáticos, sem julgamentos e cobranças desnecessárias e contraproducentes, estar disponíveis até mesmo para estar somente ali. E sempre, sempre, sempre, encaminhar essa pessoa para um tratamento adequado com um profissional especializado.

Vamos cuidar bem uns dos outros!

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
Colunistas

Carregando...

Saiba mais