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Imagem: Karolina Grabowska/ Pexels

Planos de Saúde: Por que tão caros?

Entenda as questões que envolvem os valores dos Planos de Saúde e porque eles seguem em uma crescente


Samuel Barbi

Notícias

Especialista em economia, entra ao ar às segundas-feiras com a coluna MundoZFundos, no RádioCast 98


Conforme dados do IPEA, entre 2000 e 2018, os planos de saúde aumentaram 382%, valor acima dos 208% computados para a inflação. Em junho de 2023, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou um reajuste máximo de 9,63% no preço dos planos de saúde individuais e familiares, sendo que para o mesmo período, a inflação medida pelo IPCA foi de 3,94%.

Se você já se perguntou por que os preços dos planos de saúde são tão elevados, você não está sozinho. É uma questão que inquieta muitos de nós, especialmente quando estamos envelhecendo. Nesta coluna, mergulharemos em algumas das complexidades que envolvem esses custos crescentes.


Avanço tecnológico e expectativa de vida

O avanço tecnológico na área da saúde trouxe benefícios significativos, incluindo o tratamento de uma gama mais ampla de doenças e o aumento da expectativa de vida. No entanto, esse progresso também se traduz em custos mais elevados para o sistema de saúde. O desenvolvimento de medicamentos inovadores, equipamentos médicos de ponta e terapias avançadas é caro, e esses custos são repassados aos planos de saúde e em última instância, aos pacientes. Além disso, à medida que a expectativa de vida aumenta, a demanda por cuidados de saúde também cresce, contribuindo para o aumento dos custos gerais.


Informações Desiguais:

Um dos principais fatores que contribuem para o acelerado aumento dos preços nos planos de saúde é o que chamamos de "assimetria de informações". Isso significa que os segurados e as seguradoras têm informações desiguais sobre a saúde do indivíduo. Os segurados sabem mais sobre seu estado de saúde do que as seguradoras, o que pode levar a comportamentos indesejados para o bom funcionamento do mercado.


Seleção Adversa:

A seleção adversa é o problema mais comum dos planos de saúde e é decorrência da assimetria de informações. Pense comigo. As pessoas mais saudáveis, devido aos altos preços dos planos, muitas vezes optam por não adquirir cobertura ou os abandonam. Enquanto isso, indivíduos mais propensos a doenças ou que já têm condições de saúde crônicas têm maior probabilidade de adquirir e usar intensamente os seguros. Isso resulta em um aumento das despesas das seguradoras e, consequentemente, no repasse desses custos para seus preços. O ciclo tende a se agravar ao longo do tempo, afinal, com maiores preços, ainda menos pessoas saudáveis estarão dispostas a contratar os planos.


Risco Moral:

O risco moral ocorre quando as pessoas mudam seu comportamento depois de fechar o contrato. Apesar disso ser muito mais raro na área da saúde, significa que uma pessoa pode ser menos cautelosa após contratar um plano de saúde, afinal sabe que suas despesas médicas serão cobertas. Isso pode levar a um aumento nas despesas médicas e, consequentemente, nos preços dos planos.


Como os Planos mitigam esses problemas?

Para lidar com esses desafios, as seguradoras empregam uma variedade de estratégias. Uma delas é a diferenciação de preços com base em fatores como a idade. Seguradoras geralmente cobram prêmios mais baixos para pessoas mais jovens e, em média, mais saudáveis, tornando os planos mais acessíveis para esse grupo da população. Isso ajuda a mitigar a seleção adversa, incentivando a inscrição de pessoas saudáveis.

Além disso, alguns planos oferecem programas de bem-estar e prevenção de doenças para incentivar um estilo de vida saudável entre seus segurados, reduzindo assim o risco moral e os custos a longo prazo.

Outra estratégia são os planos coparticipativos, em que o segurado paga um valor menor mensal e contribui com uma parte do valor dos procedimentos e exames que tiver que realizar.

A carência nos planos de saúde funciona também como uma proteção das seguradoras contra o ingresso de aproveitadores em sua base de clientes. Ao exigir um período de 30 a 180 dias de carência, as seguradoras evitam que indivíduos que já enfrentam problemas de saúde graves ingressem no plano apenas para receber tratamento imediato, o que poderia causar prejuízos financeiros significativos. Esse período de espera ajuda a garantir que os segurados se comprometam a longo prazo e contribui para a sustentabilidade do sistema, ao mesmo tempo que mantém os custos razoáveis para os demais beneficiários.

Em suma, os altos preços nos seguros de saúde envolvem o problema da assimetria de informações. E mesmo com os planos implementando estratégias como diferenciação de preços, carências e programas de prevenção de doenças, seus custos são crescentes ao longo do tempo. A busca por um equilíbrio entre a acessibilidade e a sustentabilidade dos planos de saúde é um desafio complexo e, ao menos por enquanto, de distante solução.


* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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