Nas últimas semanas, postei no instagram, a foto da linda bandeira da Argentina, quando estava passando pela imigração na cidade de Puerto Iguazú. Após o post, recebi algumas mensagens de pessoas que, de forma irônica, me questionaram se eu era o correspondente da Rede 98 para cobrir as eleições presidenciais.
Mesmo não sendo esse o objetivo da viagem, mas apaixonado por política e pessoas, tive a ideia de observar e conversar com o maior número de cidadãos argentinos sobre as eleições presidenciais. Minha viagem foi para a Província de Corrientes, extremo nordeste do país, nas cidades de Paso de la Pátria e Corrientes (cidade com o mesmo nome da província, igual temos no Brasil nos casos de São Paulo e Rio de Janeiro). Mas o que levaria um grupo de 24 pessoas a viajar por 700 km dentro do território argentino, em uma região nada turística para grande parte dos brasileiros? A pesca pelos dourados gigantes.
Importante esclarecer que todos os peixes pescados são devolvidos ao rio, pois nosso grupo acredita na proteção dos rios e principalmente na importância econômica e social do turismo da pesca, que emprega milhares de pessoas e abre inúmeras oportunidades de novos negócios a empreendedores, seja no Brasil ou em qualquer lugar no mundo. E lá estávamos, e para quem nunca fez uma viagem de pescaria e acredita que é igual a letra da música do Bruno e Marrone, está, de certa forma, equivocado, pois muitas amizades são construídas e inúmeras histórias de vida são compartilhadas. E assim, passamos 5 dias, pescando, comendo, bebendo e conversando com os argentinos sobre a dura e triste realidade que enfrentam.
A sua moeda totalmente desvalorizada, inflação acima de 100%, e o povo perdido e sem solução para o futuro da sua nação. Ambiente totalmente favorável para situações abomináveis que presenciei, como policiais rodoviários exigirem 6 cervejas e 2 refrigerantes para liberarem automóveis da barreira policial. Antes da viagem, vi nas redes sociais, muitas pessoas que se dizem "liberais" aqui no Brasil, loucamente apaixonadas pelo candidato Milei, e que afirmam categoricamente que o liberalismo chegou na Argentina de uma forma como em nenhum outro lugar do mundo. Perguntei às pessoas se sabiam o que era liberalismo ou o anarcocapitalismo. E praticamente todas, não sabiam ou não colocam isso no centro do debate presidencial. Não vi, em nenhum momento, nas ruas, em restaurantes, lojas, pessoas vestidas com camisetas escritas "mito" com foto do candidato segurando motosserra, ou com camisetas vermelhas de movimentos sociais em prol da "reforma agrária".
Esse foi o único ponto positivo que identifiquei, pois acredito que os argentinos estão cansados de serem utilizados de "gados" eleitorais. A maior parte das pessoas que conversei iriam votar no Milei exclusivamente por ser uma alternativa contrária a tudo o que eles estão sofrendo e sentindo na pele. Vendo e ouvindo todas as histórias do povo argentino que tive o privilégio de conhecer, passei a refletir o tanto que, nós brasileiros, temos que agradecer ao Plano Real, as privatizações, a lei de responsabilidade fiscal, e outras medidas econômicas implementadas pelos verdadeiros liberais brasileiros, tais como Gustavo Franco, Pérsio Arida, Armínio Fraga e outros, e por incrível que pareça, algo que sempre fui contra, vejo agora um ponto positivo na reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que de liberal não tem nada, mas teve a lucidez de ouvir e acreditar nas pessoas certas. Porque se ocorresse a mudança de governo de 2002, nas eleições brasileiras de 1998, estaríamos hoje sofrendo igualmente aos nossos hermanos argentinos.
Choremos todos, não pela Argentina dos peronistas, mas por todos os Argentinos de gerações e gerações que infelizmente sonharam em viver no país prometido por Evita e que hoje sofrem as dores do populismo latino-americano. "No Llores Por Mi Argentina, será difícil de comprender, que a pesar de estar hoy aquí, soy del pueblo y jamás lo podré olvidar." Andrew Lloyd Weber e Tim Rice.