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Imagem: Crédito: Anurag R. Dubey/Wikimedia Commons

O nome disso é medo


Augusto de Franco

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Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem


Não tem cabimento a alta cúpula do governo fazer uma reunião de urgência no Palácio do Planalto com quatro ministros e o Presidente da República porque o dono de uma empresa de mídias sociais decidiu mudar a forma como a checagem de fatos é feita. Isso é um sinal do quanto é estratégico, para o PT, impor uma regulação partidário-estatal (governamental e judiciária) das mídias sociais. Mas no fundo revela também o medo de perder as eleições de 2026.

Um partido que detém o comando do governo federal, mas é minoritário no congresso nacional, nos governos e parlamentos estaduais e municipais, nas ruas (desde 2013) e nas urnas (como comprovado em 2024), também é minoritário nas mídias sociais. Não há mágica regulatória capaz transformar essa minoria em maioria da noite para o dia. Talvez nem em dois anos... Daí o medo.

Por que esse desespero com o anúncio de Zuckerberg? Porque havia um acordo, talvez tácito ou até mais do que isso, sobre a moderação de conteúdos políticos nas mídias da Meta. A checagem de fatos, a cargo de agências alinhadas à esquerda ou ao politicamente correto, garantia que mensagens contra o governo não enxameariam. Agora isso vai depender de uma dinâmica de rede. E ninguém mais saberá, de antemão, o que pode acontecer.

Na dinâmica de rede ocorrem vários fenômenos interativos conexos, sem coordenação central. Tudo que interage livremente tende a se aglomerar formando bolhas (clustering). Tudo que interage sem comando e controle faz com que os agentes imitem seus vizinhos (cloning). Estabelecem-se múltiplos laços de retroalimentação de reforço (feedback positivo) e pode haver reverberação e looping de recursão, amplificando pequenos estímulos – mesmo quando partem da periferia do sistema.

Quando há co-incidência dessas fenomenologias, um swarming pode ocorrer, ou seja, a coisa toda pode enxamear, geralmente com consequências imprevistas capazes de mudar o comportamento dos agentes do sistema. Foi o que aconteceu em 2004 na Espanha, mudando o resultado das eleições em que um partido (o PP, de Mariano Rajoy) já dava como favas contadas sua vitória, mas quem venceu foi outro partido, com poucas chances segundo todas as pesquisas (o PSOE, de Luis Zapatero). Foi o que aconteceu em 11 de fevereiro de 2011, no Egito, quando um grande swarming, culminando numa gigantesca concentração na praça Tahir, no Cairo, tirou do poder o ditador Hosni Mubarak (que estava governando desde 1981). Foi o que aconteceu novamente em 30 de junho de 2013, quando o jihadista eleito da Irmandade Muçulmana, Mohamed Morsi, teve de abandonar o governo, diante do enxameamento de dezenas de milhões de cidadãos nas ruas de todas as cidades do Egito. Os exemplos são muitos.

Por isso há razões justificadas para o medo de Lula e do PT. É o medo da rede.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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