Opinião

  1. Notícias
  2. Opinião
  3. Falsas alegações sobre polarização, extremismo e barbárie
Imagem: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Falsas alegações sobre polarização, extremismo e barbárie

É necessário refutar o tripé usado pelo lulopetismo desde as eleições de 2022


Augusto de Franco

Notícias

Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem


Desde o início da campanha eleitoral de 2022, três alegações falsas povoam as conversações dos defensores do lulopetismo.

A primeira é a de que não há polarização entre Lula e Bolsonaro porque Lula não é de extrema esquerda.

A segunda é a de que não há polarização porque só um lado ataca com violência.

A terceira é a de que, se há polarização é entre a civilização (representada por Lula) e a barbárie (representada por Bolsonaro).

Refutar essas afirmações já ficou cansativo, mas é necessário.

Refutando a primeira afirmação

Há polarização toda vez que se pratica a política como continuação da guerra por outros meios. Não é necessário ser extremista para polarizar. Basta adotar o “nós” contra “eles”.

Nem todo populismo é extremista. Por certo o populismo de extrema-direita é extremista e, não raro, insufla a violência. O populismo de esquerda só é extremista em alguns casos (como os de Maduro, na Venezuela e Ortega, na Nicarágua – que viraram ditadores), mas na maioria dos casos não (Lula, Evo, Correa, Lugo, Funes, Cristina, Obrador são populistas de esquerda, mas não são extremistas).

Refutando a segunda afirmação

A violência não é elemento necessário à polarização. Basta praticar a política como continuação da guerra por outros meios. E guerra não é violência. Não é, nem mesmo, destruição de inimigos e sim construção de inimigos.

O problema não é apenas a destruição violenta de inimigos. A construção não-violenta de inimigos também é um problema porque instala um estado de guerra (que pode ser uma guerra civil fria), reconfigurando os ambientes sociais para que eles induzam comportamentos adversariais.

Em suma, para degenerar a política como continuação da guerra por outros meios não é necessário ser extremista: basta instalar a dinâmica do “nós” contra “eles”. Nem é necessário destruir inimigos: basta construí-los (convertendo adversários em inimigos). Por último, não é necessário ser violento: basta deslegitimar o outro (a ponto de privá-lo dos meios necessários à consecução dos seus projetos).

Quando, há mais de 30 anos, o PT começou a degenerar a política como guerra civil fria (do “nós contra eles”) dizia-se que o problema eram as tendências extremistas que se abrigavam dentro da sigla (chamadas à época, pela imprensa, de “xiitas”). Foi um erro. O problema era a corrente hegemônica, mais moderada. O perigo não era a extrema-esquerda, que nunca teve força, coitada, mas a esquerda mesmo (que, às vezes, até se dizia de centro-esquerda). Foi essa corrente majoritária, de Lula e Dirceu, que comandou o mensalão e o petrolão, que elaborou a estratégia da “acumulação de forças” para, algum dia, dar um curto circuito na dominação das elites, que começou a implementar o projeto – interrompido pelo impeachment – de conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido.

Refutando a terceira afirmação

Numa polarização, o fato de um lado representar a barbárie (a violência, a destruição de direitos, a restrição das liberdades) não qualifica o outro lado como democrático (o lado mais “civilizado” pode não ser plenamente democrático).

Em cerca de 90% do tempo considerado civilizado (nos últimos 5 a 6 milênios), as forças políticas dominantes não foram democráticas.

Resumindo. Ser contra a barbárie não é necessariamente ser democrático.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
Colunistas

Carregando...


Saiba mais