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Imagem: Foto: Cezar Felix

Fazendas Mineiras – Uma viagem cheia de história e nostalgia

Estrada Real é conhecida por abrigar fazendas antigas.


Daniel Magalhães Junqueira

Entretenimento

Coluna de Turismo assinada por Daniel Magalhães Junqueira - Presidente do Instituto Estrada Real


As fazendas mineiras são testemunhas históricas do desenvolvimento econômico, cultural e social do estado de Minas. As mais famosas foram construídas no auge dos ciclos aurífero e cafeeiro, entre os séculos XVIII e XX.

Pela Estrada Real, cidades como Santana dos Montes, Cruzília e São Vicente de Minas são conhecidas por abrigar fazendas antigas.

Além de serem construções históricas, tais fazendas conservam peculiaridades, como causos e lendas. Você sabia que muitas delas, por exemplo, já hospedaram figuras ilustres da história do Brasil?

É o caso da Fazenda Boa Esperança, em Belo Vale, na região central. Adquirida por volta de 1790 por Romualdo José Monteiro de Barros, o Barão de Paraopeba, a propriedade serviu de estadia para o imperador D. Pedro II nas visitas que fez a Minas Gerais. Além disso, há relatos de que a fazenda mantinha uma senzala com mais de 800 escravos.

Conhecer a Fazenda Boa Esperança, é permitir que sua história continue sendo conhecida e ressignificada.

A Casa Bandeirista, localizada no distrito de Amarantina, em Ouro Preto, também é conhecida por ter recebido visitantes ilustres. Uma das personalidades que se hospedou na fazenda, por volta de 1790, foi Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a “Marília de Dirceu”, musa da Inconfidência Mineira eternizada nos poemas de Tomás Antônio Gonzaga. Ela era cunhada de Valeriano Manso da Costa Reis, dono da propriedade na época.

No Caminho Novo da Estrada Real, Santana dos Montes concentra várias fazendas históricas. Todas elas também viraram hospedarias e recebem turistas de várias localidades. O casarão da Fazenda do Tanque, tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), existe desde 1863. Nos tempos do Brasil Império, funcionava como um armazém de grãos e cereais.

O sobrado da Fazenda Fonte Limpa foi erguido em 1742 e também é tombado pelo Instituto. A antiga senzala dá lugar hoje a bar, boate e restaurante. Já a Fazenda Solar dos Montes ocupa um casarão rural de estilo português do século XVIII – mesma época da Fazenda da Chácara, fundada em 1741 e considerada uma das maiores fazendas da região, além de ser ponto de parada para os viajantes e rota alternativa para Vila Rica, atual Ouro Preto. Próximo ao município de Cristiano Otoni, está a Fazenda Santa Marina. A sede, datada do século XIX, foi restaurada em 2002 e ganhou uma decoração com peças de época.

Em Carandaí, às margens da BR-040, o hotel-fazenda Pedra do Sino aposta na tradicional simplicidade da vida no campo. Galinheiro e curral são alguns dos ambientes rústicos herdados da antiga fazenda Pedra do Sino, fundada em 1977. A Pedra do Sino também cultivava lavouras de milho, arroz, feijão e hortaliças, além de ter com um alambique para a fabricação de cachaça.

Outra fazenda que também preza pelo frescor da ruralidade é a Estalagem Fazenda Lazer, também em Carandaí. Embora abrigue uma hospedaria com chalés requintados, a fazenda mantém hábitos típicos do homem do campo, como tirar leite “ao pé da vaca”. Antes de virar um hotel, em 1995, a fazenda nada mais era que um refúgio de fim de semana familiar.

No Sul de Minas, também existem fazendas seculares. Atualmente, elas ainda são administradas por descendentes dos fundadores. Em Aiuruoca, fica a Fazenda Campo Lindo, fundada em 1870. Desde sua origem, a propriedade se destacou por ser um dos principais criatórios de cavalos Mangalarga e Mangalarga Marchador.

A Fazenda Traituba, localizada em Cruzília, existe há mais de três séculos e é tida como uma das construções mais majestosas do Brasil Imperial. Construída por João Pedro Diniz Junqueira, descendente de uma tradicional família portuguesa, a fazenda tinha o propósito de receber D. Pedro I, amigo da família. O curioso é que, apesar da pretensão, os Junqueira nunca receberam a tão esperada visita do imperador.

Cruzília também abriga as fazendas Angahy e Narciso. A primeira, com quase três séculos de existência, recebeu tal nome devido a um rio homônimo que passava próximo à propriedade. Atualmente, ela foi transformada em uma pousada. Já a segunda foi construída pelo Barão de Alfenas na segunda metade do século XVIII. O filho do fundador, Antônio Gabriel Junqueira, fez do lugar um dos principais centros de desenvolvimento da raça equina Mangalarga Marchador do país. A Fazenda dos Lobos, por sua vez, é uma propriedade localizada nas cercanias da cidade. Ela foi construída em 1907 e recebeu esse nome em função da grande quantidade de lobos, em especial, o Lobo-Guará, que habitavam a região.

É no município de Dom Joaquim, no Caminho dos Diamantes, que fica uma das mais antigas moradias construídas ao longo da Estrada Real. A Fazenda do Ribeirão, inicialmente chamada Fazenda Ribeirão Sem Peixe, foi edificada por um bandeirante entre 1700 e 1710. Funcionava como um depósito de ouro e diamante, sendo também conhecida como uma espécie de esconderijo utilizado por aqueles que tentavam driblar a Coroa Portuguesa para não pagar o quinto – imposto de 20% cobrado sobre o ouro encontrado na colônia. Além disso, o local contava com mais de 500 negros para o trabalho escravo e durante um bom tempo, foi a única fazenda produtora de cachaça, açúcar e outros alimentos na região.

Um patrimônio histórico e cultural repleto de belezas preservadas, com construções de encher os olhos. Estrada Real: Uma estrada, seu destino!

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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