Opinião

  1. Notícias
  2. Opinião
  3. O comportamento que desafia é o pedido que precisa ser decifrado
Imagem: Beatriz Vaz / Arquivo Pessoal

O comportamento que desafia é o pedido que precisa ser decifrado

Nos nossos momentos de maior fragilidade, vêm os maiores pedidos de atenção dos filhos. Essa é a hora de respirar, receber e acolher esses pedidos


Cecília Antipoff

Notícias

Psicóloga infantil e familiar, doutora em educação. Palestrante e escritora, autora dos livros "A criança do movimento" e "Lá na casa da árvore"


Sabe aquele dia em que você está se sentindo completamente sem força, sem fôlego, frustrada e decepcionada com o comportamento do seu filho?

Sabe aquele dia em que pensa (e deseja secretamente) sair correndo dali. 

Sumir.

Fugir.

Pelo menos por algumas horinhas.

Ou por um dia.

Ou dois.

Só pra se recompor.

Pra retomar o fôlego e voltar um pouco mais abastecida?

Sabe aquele dia em que você simplesmente não aguenta falar mais nada porque tudo o que fala, sente que cai no vazio e não adianta nada?

ESTE É O DIA EM QUE SEU FILHO MAIS PRECISA DE VOCÊ!

E não.

Não estou aqui deixando uma mensagem para potencializar o seu sentimento de culpa (se é que você carrega essa dor dentro de você em algum grau).

E também não. 

Não estou aqui propondo um ideal de mãe perfeita e sempre disponível para os filhos.

E definitivamente não.

Não estou aqui trazendo mais uma exigência para nós mães, tão sobrecarregadas de funções, tarefas e cobranças (sejam elas externas ou internas).

Também sou mãe.

Também vivenciei e vivencio meus momentos de exaustão e frustração na relação com meus filhotes.

Também pensei algumas vezes em sair correndo.

Já me perguntei com toda a verdade do meu coração como seria “ter minha vida de volta”.

Como seria ter minha liberdade de ir e vir novamente.

Como seria ter minhas noites de sono completamente livres pra simplesmente dormir...

Sem hora pra acordar.

E quando esses pensamentos vêm misturados com emoções e sentimentos e chegam até meu coração, já não me culpo mais.

Tenho claro dentro de mim que não é falta de amor pela minha filha.

Não mesmo.

Tenho plena clareza da dimensão desse amor. O maior, mais puro e mais profundo de todos que já experienciei nesta vida.

Mas me aceito e me acolho nos momentos em que dói no fundo da minha alma ser esta figura tão marcante e de referência pra um ser humano que veio a esse mundo através de mim e com quem tive e tenho o privilégio de renascer a cada dia.

Dói porque são momentos em que tudo o que mais preciso é de receber colo, e não dar.

Dói porque sei que cada fala, cada comportamento e cada suspiro que eu dou é profundamente inalado pelos órgãos sensoriais da minha pequena.

Ah! E como eu queria ser invisível nesses momentos...

Mas descobri, na minha trajetória profissional escutando crianças há vinte e um anos e na minha vivência como mãe nos últimos oito anos, que são nesses nossos momentos de maior fragilidade, que nossos filhos soltam seus mais altos pedidos de atenção.

O dia em que estou menos disponível para os meus filhos, seja fisicamente, seja emocionalmente, mais eles demandam de mim.

Um chororô sem fim.

Birra.

Conflitos.

Brigas entre eles.

E já entendi.

Este é O DIA!

O dia em que mais precisam de mim.

Do meu colo.

Do meu abraço.

Do meu olhar.

Da minha presença.

Do meu cheiro.

Do meu toque.

Respiro fundo.

Jogo uma água no rosto.

Faço um esforço pra lembrar o porquê de tudo isso.

E volto para o trilho.

Faço um esforço consciente e intencional de me fazer mais presente.

E deixo a “fugida” pro dia seguinte.

Ligo pra mãe, pra sogra, remarco minha sessão de terapia, de ioga.

Porque nós, mães, também precisamos (e muito) dos nossos momentos de auto cuidado.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
Colunistas

Carregando...


Saiba mais