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Imagem: Joshua Miranda / Pexels

O que é fake news?

Cada vez mais comuns, as notícias falsas trafegam em um território cinzento e geram muitas dúvidas — inclusive entre os mais entendidos


Augusto de Franco

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Augusto de Franco, analista político, é autor do livro Como as democracias nascem


Não há ainda, na sociedade, uma definição consensual de fake news. Também não há, no Estado, uma caracterização legal de fake news e por isso é tão difícil tipificá-la como crime.

Fake news é news, ou seja, notícia, não opinião. Mas não é simplesmente a notícia falsa, a notícia que não corresponde aos fatos. Alguém pode dar uma notícia falsa por falta de informação ou por ter recebido (e acreditado em) uma informação incorreta. Alguém pode dar uma notícia falsa por uma particular apreensão dos fatos distorcida pelas suas visões, opiniões ou crenças. Alguém dizer que o homem não pisou na lua, porque avalia que isso é impossível, não é fake news. Alguém acreditar que vírus não existem, porque não podem ser vistos a olho nu, não é fake news. Nos dois exemplos será ignorância, até negacionismo científico se quisermos, mas não necessariamente fake news.

Fake news é a notícia fraudulenta usada com propósitos de enganar, confundir, fazer as pessoas acreditarem que aconteceu o que não aconteceu, ou vice-versa, para obter vantagens na luta política contra algum adversário.

O problema é que as ambiguidades do meaning de fake news, afetando a extensão e a intenção do conceito, permitem toda sorte de manipulação.

A pior fake news é dizer que é fake news tudo aquilo com que não concordamos. Foi Trump quem aplicou amplamente esse truque na luta política. Toda crítica da oposição era fake news. Até as matérias da imprensa desfavoráveis a ele e a seu governo eram fake news.

Não cabe aos governos dizer o que é fake news. Um governo populista, que pratica a política como continuação da guerra por outros meios, transformando adversários em inimigos porque, sendo antipluralista, não aceita ou desvaloriza as oposições, poderá dizer que todos que não concordam com ele são emissores de fake news, criminalizá-los e puni-los. É o que faz, por exemplo, Vladimir Putin.

Governos populistas podem aproveitar a grande comoção provocada pela avalanche de fake news para instaurar o denuncismo, levando setores da população a vigiar outros setores, confundindo as opiniões proferidas por eles, que julgam falsas, com notícias fraudulentas e acusando-os então de propagar fake news. Não cabe aos governos criar movimentos para enfrentar a desinformação, ou articular uma "rede de combate à fake news", como está fazendo o governo Lula. Numa democracia não é o governo que determina o que é a verdade. Isso só acontece em ditaduras (onde se erigem ministérios orwellianos da verdade).

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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