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Por que é tão difícil mudar hábitos?

saiba as razões de mantermos muitas ações e hábitos no “piloto automático” e algumas dicas de como fazer quando se quer sair dessa armadilha


Ana Luiza Prates

Entretenimento

Psiquiatra, especialista em Dependência química, Psicoterapia cognitivo comportamental , Neurociências, Mindfulness e Psicologia Positiva. Professora e Idealizadora do Curso de Saúde emocional da mulher. Colunista do Rádio Cast.


Nosso cérebro é um órgão maravilhoso e ainda não totalmente conhecido em todas as suas nuances. No entanto, ele é “preguiçoso” e programado para trabalhar com economia de energia, realizando várias tarefas de modo mecânico, no chamado “piloto automático”, enquanto deixa espaço para nossa mente focar em outras. Hábitos são sequências de ações aprendidas depois de muita repetição, até que passam a ser executadas com o mínimo de esforço mental.

Isso é uma característica importantíssima de nosso funcionamento mental que nos permite, por exemplo, executar atividades como dirigir, comer e escovar os dentes sem ter que nos preocupar com o próximo passo a seguir. No entanto, quando nosso cérebro passa a agir automaticamente para várias de nossas ações e queremos modificar algumas delas, precisaremos de um maior esforço, disciplina e muita determinação. Mudar hábitos envolve, muitas vezes, sair da zona de conforto e enfrentar o desconhecido, o que pode amedrontar e assustar muitas pessoas. Isso explica por que acordar cedo para ir à academia não parece uma boa ideia para o cérebro nas tentativas iniciais. Ele precisa, primeiro, aprender a fazer isso.

Depois de certo tempo e de alguma insistência, o cérebro passará, muito provavelmente, a gostar do estímulo das endorfinas e aí, sim, poderá ser formado um novo hábito. É preciso persistência e uma certa teimosia de nossa parte. O tempo que isso leva varia de uma pessoa para outra, mas alguns especialistas dizem que três semanas é tempo suficiente para conseguir inserir um novo hábito em nossa rotina. A grosso modo, podemos considerar que há duas razões para sermos tão apegados a hábitos até mesmo considerados ruins por nós mesmos: comodismo e stress.

O comodismo nos impede de avançar para territórios até então desconhecidos. Quando tentamos quebrar os hábitos considerados "ruins", nosso sistema límbico cerebral, que é o responsável pelas respostas emocionais, ativa as reações de luta ou fuga e nossa atitude é evitar essa "ameaça" para voltar ao velho comportamento, mesmo sabendo que não é bom para nós. Fazer algo novo pode desencadear medo, ansiedade e insegurança. Assim, continuamos a fazer o mesmo, pois já estamos familiarizados com nossos padrões de comportamento e com nossa rotina específica – já que essa é a nossa zona de (des)conforto. Sair dela demanda esforço, disciplina e muita determinação.

O stress, por outro lado, pode ser originado por diversos motivos, como trabalho, família ou situações e problemas diversos. Muitas vezes, para aliviar esse stress, criamos hábitos de prazer momentâneo. Quantas vezes, por exemplo, ao sair de um dia cheio de trabalho, encontramos no restaurante fast food um prazer imediato? Além de uma solução rápida, é agradável – libera dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer - e a satisfação encontrada nessa via fácil acaba sendo uma válvula de escape ao stress. Um hábito nada mais é do que um mecanismo que desenvolvemos para tornar as atividades mais práticas, agradáveis e com menor gasto de energia.

Lembre-se que o cérebro é um órgão fantástico, mas preguiçoso. Mudar significa seguir na contramão de tudo o que foi aprendido e, por isso, é tão difícil. Quando temos um hábito, nossos neurônios já sabem exatamente o caminho que devem percorrer. Quando adquirimos um novo hábito, precisamos ensinar nosso corpo e nossa mente que uma nova atividade está sendo desenvolvida. Novos caminhos neurais estão sendo formados, o que demanda tempo e esforço.

Dito tudo isso, não desanime! É possível mudar hábitos com algumas estratégias e dicas:

1. Identifique os hábitos que deseja mudar: Primeiramente, você precisa identificar quais hábitos quer mudar e o porquê. Entender verdadeiramente isso é fundamental para o sucesso.

2. Foque no propósito: Para que fique mais fácil promover uma mudança de hábitos em sua vida, você precisa focar no propósito, mais do que na mudança em si. Se você pensar com frequência nos benefícios dessa mudança, seu cérebro a entenderá como um sacrifício que vale a pena.

3. Estabeleça metas realistas: Defina metas alcançáveis e específicas, com objetivos claros e mensuráveis, sabendo exatamente o que quer alcançar. Tente ainda fazer pequenas mudanças de cada vez, não mudando todos os hábitos de uma só vez.

4. Mude o gatilho Mudar de hábito exige também que mudemos o gatilho que o dispara. Por exemplo, se quando você acorda, imediatamente pega o celular e fica enrolando na cama ao invés de levantar-se para ir à academia, não pegue o celular ao acordar. Ou melhor, nem o traga para o quarto quando for dormir. Como se pode perceber, um hábito associa-se ao outro. Essa é outra importante característica de como nosso cérebro funciona: sempre por associações. Por isso, se você quer acabar com algum hábito, precisa também colocar um ponto final em seus gatilhos ou associações. Assim, seu cérebro compreenderá melhor que você está em uma nova rotina, o que tornará o processo mais fácil.

5. Repita o novo comportamento até tornar-se um hábito Nas primeiras vezes em que você mudar um hábito, pode parecer horrível. No entanto, quanto mais você repetir esse comportamento, menos difícil ele será. Com o passar do tempo, essa nova atividade vai se tornar um hábito, ou seja, vai se tornar um comportamento prático e capaz até de te dar prazer. Lembre-se que novos caminhos neurais estão se formando. Insista! Para que isso ocorra, é preciso persistir. Os primeiros dias serão os mais difíceis, e é aí que você mais deve se lembrar de todos os benefícios que você tem a ganhar com o novo hábito. Só assim o processo de mudança ocorrerá efetivamente. Não há um prazo oficial para que um novo comportamento se torne um hábito, pois isso varia de pessoa para pessoa.

6. Você não pode controlar o mundo, mas pode controlar a si mesmo Mudar é um acontecimento que envolve muita determinação e uma “reeducação” de nossos corpos e mentes. Celebre suas pequenas vitórias, sua disposição e seus primeiros passos em direção à mudança. Afinal, todo cume é alcançado subindo cada degrau!

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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