Opinião

  1. Notícias
  2. Opinião
  3. Quais os limites do trabalho jornalístico?
Imagem: Ekaterina Bolovtsova / Pexels / Reprodução

Quais os limites do trabalho jornalístico?

Caso recente envolvendo publicações com a temática da alienação parental, e a divulgação de informação confidencial, levantaram o questionamento: o bom jornalismo caiu por terra?


Camila Dias

Notícias

Advogada especialista em Direito de Família - mediadora, conciliadora. Jornalista, especialista em Criminologia.


Antes de mais nada quero lembrar a você, caro leitor, que hoje escrevo na condição de cidadã. Casada e mãe de duas crianças. Mulher e filha de pais separados que viveu as agruras de ter que escolher morar com o pai ou com a mãe. Que passou por histórico de alienação parental.Com uma história comum, com uma família comum.

Cidadã com vasta experiência em Jornalismo - publicações, matérias, divulgações. Com ampla experiência em apuração, investigação jornalística, redação e tudo mais que envolve o trabalho de jornalista.

E, agora, somada a essa experiência, minha atuação, como advogada, em divórcios complexos... que envolvem guardas dos filhos e, infelizmente, alienação parental.

Há cerca de três semanas, me deparei com algumas matérias nada jornalísticas, de uma agência de notícias, que se autointitula, aos quatro cantos, um site independente. E para manter a suposta independência, coloca menus “Quero apoiar (...)” no meio dos textos. E basta correr a barra de rolagem para verificar que a independência passa longe. Pode sim, não haver dependência econômica de qualquer grande grupo econômico, o que por si só não garante a imparcialidade.

Os textos nada independentes. Totalmente tendenciosos, manipuladores, parciais e mentirosos. Em nome da suposta liberdade, o jornalista se acha no direito de descumprir normas legais e constitucionais, expondo muito além dos fatos. Expondo documentos, nomes, identidades de pessoas que vivem suas dores e seus lutos. Até que não haveria nada de errado, se os casos não estivessem em segredo de Justiça. E se houvesse apuração equilibrada.

Não existe imparcialidade, responsabilidade e compromisso com a verdade. O que verificamos naquelas matérias, que agora estão fora do ar, é a distorção dos fatos. A apuração (tive acesso a algumas perguntas que foram enviadas a algumas fontes) foi totalmente enviesada. Perguntas eivadas de direcionamento com um único objetivo: convencer o leitor de que a Lei da Alienação Parental seria prejudicial às mulheres. E que mulheres estariam perdendo a guarda de seus filhos por causa desta lei, O QUE NÃO É VERDADE.

Quando eu era repórter, me deparei várias vezes com casos sob segredo de Justiça. E há maneiras de se falar, denunciar, expor a verdade com responsabilidade e sem descumprir a lei. Fiz isso durante 10 anos. Por isso tomo a liberdade de falar sobre o assunto neste espaço.

O jornalismo sério busca e expõe a verdade. Não se limita a expor um lado. Ouve todos os lados. Não se arrisca a divulgar nomes de pais, filhos e crianças, principalmente quando o caso está sob segredo de Justiça. Não se atreve a divulgar nomes de servidores públicos que atuam nos processos que estão sob a proteção da Justiça. Sim, até isso fizeram... não mantiveram o sigilo, sequer, da fonte.

Sabem para que serve o segredo de Justiça no Direito de Família? Para cumprir o art. 5º, o art. 227 e tantos outros da Constituição Federal. Serve para cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente. Serve para proteger as famílias e principalmente as crianças que não podem ser revitimizadas a todo momento, com matérias inescrupulosas. E mesmo se fossem matérias verdadeiras: não se pode divulgar nomes dos pais, porque quando se identifica pais, consequentemente ocorre a identificação das crianças, logo... infringe-se a lei.

A internet não é terra de ninguém. A agência de notícias e o jornalista descumpriram a lei e a Constituição.

Expor crianças e desrespeitar o sigilo processual, distorcer informações para convencer as pessoas sobre um único ponto de vista não é jornalismo... é manipulação, propaganda enganosa. E por isso a Justiça determinou que as matérias fossem tiradas do ar. Então não há aqui que se falar em censura. Não há que se falar em decisão judicial absurda. O que a Justiça do Rio de Janeiro fez foi fazer cumprir a nossa legislação. Foi garantir a proteção às crianças vítimas de alienação parental. Foi proteger às famílias e calar a boca de quem mente.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
Colunistas

Carregando...


Saiba mais