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Imagem: Marcello Oliveira / Arquivo Pessoal

Salão de Nova York retorna à cena mas sem o luxo e o glamour de antes


Marcello Oliveira

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Jornalista automotivo, com passagens pelo Portal Vrum, programa Vrum e revista Quatro Rodas


O ano era 2011 e eu, um jovem repórter de apenas 24 anos tinha ganho a oportunidade de ir até Nova York cobrir um dos salões de automóveis mais prestigiado e do mundo. Agora, em 2024, voltei neste salão que estará aberto ao público até o próximo dia 07.

Não vou falar que foi decepcionante, pois qualquer salão do automóvel é um evento melhor do que a Disneylândia para mim. Mas afirmo que foi um balde de água fria por causa da expressiva redução de gastos que o salão teve em relação a edição de 2011.

Mas se analisarmos com calma, veremos que tudo isso faz muito sentido no momento em que vivemos e temos que agradecer pelo New York Auto Show ter se tornado realidade em 2024.

Para que você, leitor, sinta a real situação, vou explicar por partes. Assim você entenderá esse balde de água fria.

Por mérito conquistei a folga no feriado de semana santa (algo a ser comemorado para um repórter de hard news, como eu) justo quando o salão de NY 2024 abria suas portas para profissionais de imprensa. Imediatamente chequei minhas milhas e voei para Big Apple imaginando ver todo aquele show que vi em 2011.

Se 13 anos atrás eu fiquei em um famoso hotel cinco estrelas no Distrito Financeiro com direito a idas e vindas ao salão num Rolls Royce com motorista, desta vez meu pouso foi num pacato hotel popular na periferia, e o Rolls Royce deu lugar ao eficiente sistema de metrô da cidade.

Em 2011 tivemos importantes lançamentos, como o Fusca 2012. A releitura do ícone movimentou não apenas o salão, mas toda a cidade, com direito a um show exclusivo na Times Square. A famosa é iluminada praça estava tomada por publicidade das montadoras presentes no salão. Painéis divulgavam o salão no aeroporto, escancarado na frente de todo passageiro do JFK. O salão estava no metrô, nos ônibus… em toda a cidade. ‘Velozes e Furiosos 5 - operação Rio’, foi lançado naquele salão, com direito a um estande com um dos carros do longa e a presença de atores, como o próprio Vin Diesel.

Entre 2011 e 2016 o Salão de Nova York viveu tempos de glória com direto a participações glamourosas de nomes como Lady Gaga, Britney Spears, Rhianna e Beyonce. Teve Ford Mustang no alto do Empire State, show de comediantes famosos nos estandes mais badalados e até a gravação do reality show culinário mais famoso da tv americana.

Corta para 2024, ano em que a cidade passou a ter hospedagens de hotel acima de mil reais a diária num hotel simples, ano de inflação acima do normal para os americanos e um ano em que as empresas ainda contabilizam os estragos feitos pela pandemia. O Jacob Javits Center, local que recebe o salão, inclusive foi hospital de campanha durante os meses mais críticos da pandemia. É um alívio ver estandes de carros ao invés de leitos.

Dito isso, passa a ser compreensível que a mostra americana esteja enxuta, singela e muito menor do que já foi. Está sendo um salão objetivo, sem nenhum firula e com bem menos marcas do que o habitual. Tradicionais como BMW, Mercedes e RAM nem passaram perto. Volvo, Audi e Porsche ocupam um espaço mínimo onde mal cabem quatro carros. Também não houve novidade dessas marcas para o Salão. As americanas Ford e Chevrolet foram grandes, com estande de respeito, mas não houve lançamento. Coube às asiáticas, o brilho deste ano no salão de NY: com grandes estandes, ela fizeram o dever de casa básico. Hyundai mostrou o novo Santa Fe, que vem ao Brasil. A Kia, o SUV elétrico EV9, que ganhou o título de melhor carro do ano e também virá ao Brasil. Na Nissan, o novo Kicks, também muito aguardado por aqui. Toyota e Honda, apesar de grandes estandes, não trouxeram nada demais. Na Subaru, o novo Forester foi lançado. Aliás, foi o único lançamento pomposo, que relembra os tempos áureos dos grandes salões.

A Volkswagen mostrou a ID. Buzz, ou a nova Kombi elétrica, específica para o mercado americano, assim como o cupê grande ID.7.

Marca chinesa? Nenhuma compareceu. Na certa estão pouco se lixando para o mercado americano, já que lá elas não entram e se preparando para o Salão de Xangai, que será no fim de abril.

Ficou claro que o Salão de Nova York é como um país tentando se levantar com dignidade após uma guerra que o devastou.

* Esta coluna tem caráter opinativo e não reflete o posicionamento do grupo.
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